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Conduzido por boas atuações, "Casa Gucci" não dá conta de tanta história para contar | Crítica

Filme protagonizado por Lady Gaga, Adam Driver e grande elenco chega aos cinemas nesta quinta (25)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 23/11/2021, às 20h00

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Conduzido por boas atuações, "Casa Gucci" não dá conta de tanta história para contar | Crítica - Divulgação/Universal Pictures/MGM
Conduzido por boas atuações, "Casa Gucci" não dá conta de tanta história para contar | Crítica - Divulgação/Universal Pictures/MGM

Ao entrar na cabine de imprensa de “Casa Gucci”, novo filme do diretor Ridley Scott, foi entregue aos jornalistas e críticos o livro escrito por Sara Gay Forden que serviu de base para o roteiro da dupla Becky Johnston e Roberto Bentivegna. Após ter assistido ao filme, percebi que o gesto, já habitual em cabines, vai além de ser um brinde ou uma recordação - se fosse o caso seria melhor ter ganhado um vale compras da Gucci -, é como se eu tivesse recebido um complemento do que acabei de assistir.

“Casa Gucci” sofre por ser uma história de muitos desdobramentos e por não dar conta de desenvolver todos eles. E estamos falando de um filme de 2 horas e meia! É claro que o público que vai ao cinema não terá a mesma sorte de receber o livro na entrada da sessão e eu tampouco farei propaganda do mesmo, afinal, um filme deve funcionar por si só. Por isso, uma dúvida surge: será que teremos uma versão do diretor? Quem acompanha o trabalho de Ridley Scott sabe que isso não seria uma novidade, já que filmes como “Cruzada", “Blade Runner” e “Alien, o 8º Passageiro” ganharam versões diferentes daquelas lançadas no cinema. Não duvido que o mesmo aconteça com "Casa Gucci".

Inspirado na história real do polêmico casamento entre Patrizia Reggiani (Lady Gaga) e o herdeiro Maurizio Gucci (Adam Driver), “Casa Gucci” é a jornada de uma família e de seu império. O diretor Ridley Scott lança seu segundo filme em 2021, sendo o anterior o épico “O Último Duelo”, mais uma vez com o ator Adam Driver no elenco. E se lá Adam Driver era o antagonista da história, aqui ele surge como o ingênuo herdeiro da marca Gucci que é domado pela intensa e ambiciosa personagem de Lady Gaga.

Quem também volta a colaborar com Ridley Scott é a montadora Claire Simpson, responsável pela costura dos três pontos de vista de “O Último Duelo”, só que dessa vez, Claire se perde no montante de informações que “Casa Gucci” possui. Pior: ela parece disposta a inserir no filme toda e quaisquer informações disponíveis, por mais fúteis que sejam, inchando o filme com momentos desnecessários - como todos aqueles em que a personagem de Salma Hayek está - deixando o longa sem foco. É como se “Casa Gucci” fosse um projeto de série que, para conter os custos de produção, fora transformado em filme.

O longa se assemelha à produção espanhola - falada em inglês! - “Escobar - A Traição”, protagonizada pelo casal Javier Bardem e Penélope Cruz, sendo um filme de atuações - exageradas - com um background que nos instiga e nos fascina, mas que nunca será explorado o suficiente. Quer saber mais? Leia o livro! Tal exagero não chega a incomodar pois é parte natural dessa high society aristocrata que esbanja seus sobrenomes, suas roupas, suas jóias, suas propriedades e seus bens sem qualquer remorso.

Quem assistiu aos trailers ou viu o material de divulgação já estava preparado para ver toda a pompa do império dos Gucci sendo ridicularizada, seja pelas atuações extremamente caricaturais do elenco, principalmente de um afetadíssimo - e irreconhecível - Jared Leto que dá seu show à parte - e isso não é um elogio - ou pelos sotaques carregados dos atores - que os veteranos Al Pacino e Jeremy Irons tiram de letra.

Por pelo menos uma hora, “Casa Gucci” acerta ao explorar o relacionamento entre Patrizia e Maurizio e ao nos apresentar aos poderosos da família Gucci que controlam a marca, no entanto, o filme vai se desdobrando por muitos caminhos, personagens e temas e, conforme os anos vão se passando, seu foco vai ficando cada vez mais indefinido. Com muito a ser dito, o roteiro quer dar conta de 30 anos de história e as elipses de tempo são um grave problema para a evolução da trama, pois cenas e assuntos são abandonados pelo caminho, como se o interesse fosse apenas destacar como o nome Gucci é importante. E a gente já não sabe?

Além disso, o filme nunca se decide entre ser levado a sério ou ser uma completa zombaria, parecendo um projeto iniciado por um e concluído por outro. O tom de sátira contrasta com momentos mais melodramáticos. Frustrado ficará o espectador que for ao cinema para assistir ao tal crime contra Maurizio Gucci. Sem querer entrar em spoilers, “Casa Gucci” não demonstra preocupação acerca dos meandros de Patrizia e de seus cúmplices de assassinato - já que faz isso em somente uma cena. Ora, sobre o que é o filme então?

Em suma, “Casa Gucci” é sobre como uma família de figuras excêntricas mantém o legado de uma marca ostentada a partir de seu sobrenome e o que uma “intrusa” é capaz de fazer para conseguir uma fatia - bem gorda - desse bolo. Ao final, o que fica é a sensação de que faltou maior refinamento ao roteiro de “Casa Gucci” que, mesmo conduzido por boas atuações, não dá conta de desenvolver todas suas tramas.