CineBuzz
Busca
Facebook CineBuzzTwitter CineBuzzInstagram CineBuzz
#CineBuzzJáViu / CRÍTICA

"Deserto Particular" é um olhar de esperança em um país cada vez mais conservador | #CineBuzzIndica

Filme terá sessões presenciais na 45ª edição da Mostra de SP

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 21/10/2021, às 12h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
"Deserto Particular" é um olhar de esperança em um país cada vez mais conservador - Divulgação/Pandora Filmes
"Deserto Particular" é um olhar de esperança em um país cada vez mais conservador - Divulgação/Pandora Filmes

“Deserto Particular”, novo filme de Aly Muritiba, diretor de “Ferrugem”, vem trilhando uma carreira de sucesso: em 2021, o longa foi premiado no Festival de Veneza com o Prêmio do Público na Mostra Venice Days, além de ter sido selecionado como representante do Brasil na busca pela tão sonhada vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar em 2022. E busca é uma das palavras-chave desta história.

Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a internet e seus aplicativos de relacionamento são um facilitador para que pessoas de universos distintos e distantes se conheçam e se aproximem. Laços se criam. Relações de afeto surgem. E uma conexão não só virtual acontece. É o caso de Daniel e Sara, protagonistas de “Deserto Particular”. Ele do sul, ela do nordeste. Ele está em busca. Ela está em fuga. O que encontrarão ao final? 

Na trama, Daniel, interpretado por Antonio Saboia - em uma atuação segura e catártica -, é um policial afastado de seu trabalho após ter cometido um erro grave. Seus dias em Curitiba se resumem a cuidar do pai aposentado que apresenta sinais de demência e trocas de mensagens via celular com Sara, uma mulher misteriosa que mora na Bahia. Quando Sara para de responder às suas mensagens, Daniel deixa o pai aos cuidados da irmã mais nova e pega a estrada em busca de sua paixão.

Em sua nova empreitada, Aly Muritiba vira completamente a chave após os polêmicos “Ferrugem”, no qual expõe os efeitos destrutivos do cyberbullying, e “Jesus Kid”, em que uma sátira nada sutil do Brasil atual é arquitetada em um tom cômico questionável. Em “Deserto Particular”, Aly desenvolve uma narrativa muito mais humanizada que trata com delicadeza os sentimentos de seus personagens. Embora não abra mão de algumas constantes em filmes com temática LGBTQIA+, a força do roteiro da dupla Aly e Henrique dos Santos está em seus personagens.

De início, conhecemos Daniel, um personagem de poucas palavras preso em seu deserto particular de contornos bem definidos. O pai, militar reformado do exército, vai muito além de ser o ente de quem o filho cuida com carinho. Ele representa o conservadorismo ultrapassado de uma instituição como a do Exército e também a Polícia, onde Daniel trabalha. Até mesmo o gesso em seu braço simboliza uma algema, um fardo pelo erro que cometera. A partir do momento em que Daniel decide se livrar de tais amarras, seu mundo ganha contornos mais flexíveis.

Saboia oferece ao personagem Daniel uma efervescência gradual de sentimentos que entram em conflito a partir do instante em que Sara surge em sua frente como um oásis ou - por que não? - como uma miragem. À jovem, o que resta é se esconder mais uma vez. Seja atrás do melhor amigo, interpretado por Thomas Aquino ("Bacurau"), ou atrás de suas roupas e maquiagem. Não bastando o tradicionalismo religioso do qual Sara é vítima, Daniel também representa parte deste conservadorismo. Até que ponto vale a pena se arriscar e se envolver com ele?

A partir de universos tão distintos, ficam evidentes os traumas e as fragilidades dos habitantes de um país que vem se tornando cada vez mais agressivo com a comunidade LGBTQIA+, por isso, a forma com que “Deserto Particular” se desenrola acaba se tornando um tapa na cara desse próprio conservadorismo e dessas instituições tradicionais. Ao final, sem represálias, sem barganhas, com naturalidade e muita verdade, “Deserto Particular” dá esperança a Daniel e Sara de que o “para sempre começa hoje”.

SESSÕES NA 45ª MOSTRA DE SP

"Deserto Particular" tem classificação indicativa de 14 anos e será exibido em três sessões presenciais:

Cinesesc: 23 de outubro (sábado), às 20h45.
Petra Belas Artes (sala 2 Leon Cakoff): 24 de outubro (domingo), às 15h50.
Espaço Itaú de Cinema - Augusta (sala 1): 30 de outubro (sábado), às 13h30.