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Entre a ação e o drama, “Marighella” é thriller político que resgata figura histórica | #CineBuzzIndica

Longa de Wagner Moura, estreando na direção, chega aos cinemas a partir desta quinta (4)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 03/11/2021, às 13h12

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Entre a ação e o drama, “Marighella” é thriller político que resgata figura histórica - Divulgação/Paris Filmes/Downtown Filmes
Entre a ação e o drama, “Marighella” é thriller político que resgata figura histórica - Divulgação/Paris Filmes/Downtown Filmes

Após sofrer com adiamentos devido à pandemia de covid-19 e também com problemas com a ANCINE (Agência Nacional do Cinema) - que os realizadores chamam de censura -, o longa "Marighella", filme que marca a estreia de Wagner Moura como diretor, finalmente terá sua estreia oficial nesta quinta, dia 4 de novembro de 2021, data que marca os exatos 52 anos do assassinato de Carlos Marighella pela Ditadura Militar Brasileira, em 1969.

A máxima “filmes são um registro de seu tempo” serve muito bem para “Marighella”, adaptado da biografia “Marighella - O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mário Magalhães. Bastante consciente do período pelo qual o país passa - de negacionismo e conservadorismo - Wagner Moura deixa claro o que pretende com seu filme: resgatar uma figura histórica que foi invisibilizada com o passar dos anos.

Wagner faz isso com a melhor das intenções: dá a seu filme uma roupagem de thriller de ação. Um gênero do povo. É claro que de boas intenções o inferno está cheio - lá venho eu com outra máxima - e “Marighella” também, e justamente por isso fica fácil identificar alguns dos principais deméritos do filme que, embora esteja longe de ser o filme perfeito sobre Marighella, serve bem aos tempos atuais - e também surpreende como obra de um diretor estreante.

E o termo “diretor estreante” não é para parecer condescendente com as escolhas de Wagner Moura, digo isso pois seu projeto - o qual ele inicialmente iria apenas produzir - não é uma obra independente, por trás dele há financiamento de produtoras que, à época da ditadura, não fizeram o que Marighella acreditava que deveriam ter feito: reagir aos opressores. Por isso, o que Wagner faz é: conheçam Marighella. O Marighella na sua visão. Um resgate necessário, ainda que imperfeito.

O fato é que “Marighella” é um filme que serve para - ou tenta - canonizar Marighella, interpretado com intensidade e carisma por Seu Jorge. Empatizamos pela figura do pai e marido que manda cartas ao filho e tenta zelar, como pode e à distância, pelo bem estar da esposa (Adriana Esteves), nuances que o outro lado não possui. Se por um lado seu nome é imaculado entre os companheiros que lutam com ele - e por ele -, por outro lado, Marighella é amaldiçoado por aqueles que tentam caçá-lo, personificados na figura caricata de Bruno Gagliasso

Dessa forma, o filme vira um vilão contra mocinho que não se resolve muito bem nesse sentido, já que os atos do vilão - patrocinado pelo governo norte-americano - são mostrados a torto e a direito, enquanto Marighella aparece sempre escondido ou em fuga enquanto usa uma peruca ridícula - da qual o próprio filme faz questão de rir. Demonstrando imenso zelo por seu personagem, Wagner parece proteger a figura de Marighella, algo meio contraditório para um filme sobre um guerrilheiro que foi considerado o inimigo número um do país durante a Ditadura Militar. Apesar da boa intenção de mostrar o lado humano do guerrilheiro, faltou que ele aparecesse ainda mais vezes em ação sendo temido pelo governo ditatorial.

Ora, se alguém como Marighella se tornou inimigo número um do Brasil, era preciso que o povo acreditasse nele enquanto o governo fazia o possível para que não. E para o governo ditatorial e censurador da época era fácil impedir que os atos de Marighella chegassem ao conhecimento do povo, seja fechando os jornais que ousassem reportar suas mensagens ou até mesmo interferindo nos relatos das cenas dos ataques praticados pelo grupo Ação Libertadora Nacional de Marighella. Falta ao filme de Wagner Moura explorar esse lado da relação entre Marighella, imprensa e povo. Seu filme pára em Marighella, como se Wagner apenas o reverenciasse. Imprensa e povo praticamente inexistem.

O maior acerto de “Marighella” está em como Wagner Moura abraça a ação, um gênero praticamente inexistente no Brasil, encontrando a oportunidade perfeita para mostrar que é um diretor que estreia não só com boas intenções para com seu personagem, mas também de boas virtudes enquanto com a câmera na mão. Inclusive, seu longa já abre com uma ótima cena de assalto a um trem, filmada em um longo plano-sequência que deixa evidente toda a tensão que permeará pelas 2 horas e meia de filme. 

O que parece faltar a Wagner Moura é aquele ímpeto e coragem de um Capitão Nascimento para ilustrar todos os horrores que Marighella passou e causou - “é terrorismo sim!”, diz um enraivecido guerrilheiro à câmera. Ao negar essa revolução, Wagner busca algo menos Cinema Novo e parte para um cinema de retomada que marcou o início dos anos 90 - com referência ao sequestro do embaixador dos Estados Unidos, ato praticado pelo grupo MR-8 mostrado em “O Que é Isso, Companheiro?”. Ou seja, o seu interesse está em um público bastante específico, já que abraça o didatismo para que Marighella volte a ser conhecido como a pessoa que enfrentou e amedrontou a ditadura há 50 anos.