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"Moonfall - Ameaça Lunar" testa a paciência do espectador em filme catástrofe desanimador | Crítica

Novo longa do diretor de "Independence Day" estreia nos cinemas nesta quinta (3)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 03/02/2022, às 16h47 - Atualizado às 16h57

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"Moonfall - Ameaça Lunar" testa a paciência do espectador em filme catástrofe desanimador | Crítica - Divulgação/Diamond Films
"Moonfall - Ameaça Lunar" testa a paciência do espectador em filme catástrofe desanimador | Crítica - Divulgação/Diamond Films

Na era dos streamings, filmes “feitos para o cinema” chamam a atenção do cinéfilo mais purista, aquele que ainda conserva o hábito de ir ao cinema para se divertir e esquecer os problemas do mundo real. Os filmes catástrofe surgiram assim: o fim do mundo ou alguma grande calamidade exibida como forma de entretenimento para as massas. Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) não viveram tempo suficiente para assistir a muitos desses filmes que fizeram sucesso na década de 70, mas, sem dúvida alguma, torceriam o nariz para vários deles.

Os filmes catástrofe são sinônimo do filme blockbuster: grandes astros reunidos, show de efeitos especiais, orçamento gigantesco e aquele programa pipoca para as famílias. “Titanic” e “Inferno na Torre” que o digam. Dois dos principais exemplares do estilo, cada um em seu tempo, e, até hoje, dois dos filmes que mais levaram público às salas de cinema do Brasil. No entanto, desde os anos 90, com os blockbusters e filmes catástrofe ficando cada vez mais realistas, graças ao avanço da tecnologia, o público também foi se tornando cada vez mais exigente, muito por conta de cineastas como Steven Spielberg e Roland Emmerich que fomentaram esta sede por destruição com seus espetaculares “Guerra dos Mundos” e “Independence Day”. Mas aí vieram os anos 2000 e os filmes de super heróis, e o público foi se esquecendo dos filmes catástrofe.

Recentemente, em entrevista ao Den of Geek, o cineasta Roland Emmerich afirmou que “a Marvel e a DC Comics praticamente assumiram o controle [do cinema]” e que essa dominação estaria arruinando a indústria porque ninguém mais faz nada original. A declaração de Emmerich até faz sentido, em vista que nos últimos anos os filmes de super-heróis têm dominado as bilheterias e até as salas de cinema, sufocando outros lançamentos, só que o outrora maestro dos filmes catástrofe parece um hipócrita ao afirmar isso e entregar um filme como “Moonfall - Ameaça Lunar”. A premissa não poderia ser mais absurda: um conspiracionista (John Bradley de "Game of Thrones") descobre antes da NASA (!!!) que a Lua saiu de sua órbita e que, em pouco tempo, irá entrar em rota de colisão com a Terra.

Desde “O Dia Depois de Amanhã”, Emmerich não entrega um filme catástrofe digno de um pacote grande de pipoca, é certo que de lá pra cá nem foram tantas tentativas assim, mas as que aconteceram são bastante frustrantes, para dizer o mínimo: “2012”, de 2009, que pelo menos colocou a equipe de efeitos especiais para trabalhar, e “Independence Day: O Ressurgimento”, filme de 2016 que merece o título de uma das piores sequências da história do cinema.

Em “Moonfall - Ameaça Lunar”, como manda a fórmula dos filmes catástrofe, Emmerich reúne um elenco estelar com nomes como Halle Berry (“X-Men”), Patrick Wilson (“Aquaman”), Michael Peña (“Homem-Formiga”), Charlie Plummer (“Todo o Dinheiro do Mundo”) e até o veterano Donald Sutherland (“Jogos Vorazes”). Só que quem chama a atenção é John Bradley. O seu K.C. Houseman é um conspiracionista que nos conquista por seu carisma, humor e por ser a única pessoa dali que realmente merece sobreviver em um mundo prestes a ser destruído - mesmo que ele não faça a mínima ideia de como ajudar.

O roteiro de Emmerich, assinado também pela dupla Harald Kloser (“10.000 a.C.”) e Spenser Cohen (“Extinção”) exige paciência, benevolência e muita suspensão de descrença por parte do espectador. A sequência de abertura já deixa claro como a idiotice circunda os personagens principais: astronautas durante uma missão no espaço dançam ao som de “Africa” do Toto. Sabendo que trata-se de um filme de aproximadamente 2 horas, fica difícil não dar aquela coçada na cabeça e imaginar: quem escreveu esse roteiro realmente estava no mundo da Lua. E isso é só o começo.

São tantos momentos absurdos que fica difícil enumerá-los - a lista seria extensa - mas entre os principais e os que mais incomodam estão aqueles em que personagens que não deveriam ser estúpidos são. A preguiça dos roteiristas em pensar em algo mais crível impressiona. Um alto cargo da NASA abandona o seu posto sem mais nem menos e o entrega para a personagem de Halle Berry. Personagens são lançados a metros de distância após sofrer impactos de troncos de árvores e saem sem nenhum arranhão. Outro personagem se sacrifica só para ver se algum espectador de choro fácil se emociona. E quando tudo parece caminhar para o fim, uma trama que mistura elementos de “Matrix” com aspectos de “Elysium” surge para nos fazer torcer para que a Lua destrua a Terra o quanto antes.

Claro, as tramas dos filmes catástrofe sempre foram baseadas no exagero, desde alienígenas dizimando o planeta a um grupo de alunos se aproximando de tornados mortais. O espectador gosta de ver os milhões de dólares investidos em efeitos especiais sendo utilizados para destruir cidades inteiras, se regozija com personagens sendo levados ao limite do sofrimento e se solidariza com personagens desgarrados que, ao final do dia, arriscam a própria vida com bravura para salvar o mundo. No entanto, em “Moonfall - Ameaça Lunar” fica difícil se importar com personagens tão ridículos que parecem ter saído diretamente de “Não Olhe Para Cima” - e é claro que não estou falando dos sensatos de lá.

Para piorar, com um orçamento de 140 milhões de dólares - aproximadamente o dobro de “Independence Day” - “Moonfall - Ameaça Lunar” carece de momentos de destruição empolgantes e de uma história mais concisa. Em suma, é difícil encontrar algo a ser elogiado e que vá justificar uma ida ao cinema ou que pelo menos nos distraia no meio de tanta coisa ruim e tola acontecendo. Sem personagens cativantes, sem a destruição esperada e com uma trama rocambolesca que mais cansa do que empolga, ao final, “Moonfall - Ameaça Lunar” se consolida como mais um fiasco na carreira já com muito mais baixos do que acertos de Roland Emmerich.