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"Morte no Nilo" é mistério à moda antiga, mas sem o charme de outrora | Crítica

Adaptação do romance de Agatha Christie estreia nos cinemas nesta quinta-feira (10)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 10/02/2022, às 08h00 - Atualizado às 09h00

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"Morte no Nilo" é mistério à moda antiga mas sem o charme de outrora | Crítica - Divulgação/20th Century Studios
"Morte no Nilo" é mistério à moda antiga mas sem o charme de outrora | Crítica - Divulgação/20th Century Studios

No prólogo sem cores de "Morte no Nilo" acompanhamos um jovem Hercule Poirot (Kenneth Branagh rejuvenescido pelo CGI) vagando pelas trincheiras da Primeira Grande Guerra. Descobrimos que foi a partir dali que o perspicaz detetive belga passou a conservar o seu icônico bigode, após se ferir gravemente no rosto e seguir o conselho de sua amada: deixe o bigode crescer.

À primeira vista, a sequência de abertura parece puro capricho estético de um diretor que quer filmar em preto e branco - será que Branagh não se saciou com “Belfast”? - podendo ser confundida com um momento deslocado diante da narrativa central que é o mistério envolvendo a embarcação que levará Poirot e outros viajantes pelo Nilo, mas, ao final da história, ela serve para elucidar que, apesar de todos os disfarces, há sempre algo a ser revelado.

A versão de Branagh para mais um romance de Agatha Christie segue praticamente os mesmos moldes da adaptação anterior, “Assassinato no Expresso do Oriente”, lançada em 2017, também assinada por ele. A única diferença é que o Egito de “Morte no Nilo” permite que a fotografia dourada e alaranjada de Haris Zambarloukos explore melhor as nuances de uma trama que se passa no período da Grande Depressão.

A grandiosidade dos cenários brilha aos olhos daqueles personagens, assim como a Linnet Ridgeway de Gal Gadot, que interpreterá a rainha do Egito em breve, brilha aos olhos de Simon Doyle (Armie Hammer) que, em vias de se casar com Jacqueline de Bellefort (Emma Mackey), escolhe a rica herdeira como sua esposa.

O crime - que sabemos que irá acontecer a qualquer momento - não é mais a nossa principal curiosidade a partir do momento em que Branagh vai apresentando os demais personagens que farão companhia a Simon e Linnet em sua lua de mel a bordo da embarcação que navega sobre o Nilo. Muitos conflitos depois, cada um deles parece ter motivos suficientes para cobiçar a fortuna da personagem e matá-la. Quando o crime acontece, viramos mais um passageiro a bordo de um mistério à moda antiga praticamente impossível de ser solucionado - só mesmo por Poirot, que interrompe suas férias para descobrir quem está por trás do assassinato.

Tal qual fez em “Assassinato no Expresso do Oriente”, Branagh muda alguns personagens em sua adaptação. Parece que o diretor quis tornar a trama desta nova versão mais séria e mais densa, só que isso a deixa mais maçante, menos cômica e até menos charmosa. O clássico de 1978, intitulado “Morte Sobre o Nilo”, contava com a presença do Coronel Race, personagem famoso das histórias de Agatha Christie, que é vivido pelo ator David Niven. Aqui, ele inexiste, dando lugar a um apático Mr. Bouc (Tom Bateman).

A divertida Salome Otterbourne, vivida por Angela Lansbury no original, agora é interpretada por Sophie Okonedo (“Hotel Ruanda”). Se lá Salome se jogava para cima de Poirot com uma comicidade impagável, aqui, a personagem de Sophie surge como um interesse romântico em uma subtrama rasa que coleciona momentos insossos.

O filme também perde em elegância quando vemos as personagens que foram de Bette Davis e Maggie Smith no original sendo interpretadas pelas apagadas Jennifer Saunders e Dawn French. Falta o charme e a diversão do original, com isso, “Morte no Nilo” vai aborrecendo a paciência do espectador ao invés de diverti-lo. Nem mesmo as diversas possibilidades da identidade do assassino consagram a imprevisibilidade da trama.

Ao final, “Morte no Nilo” até consegue nos convencer de que todos aqueles personagens possuem motivos suficientes para praticarem o crime que fora cometido, no entanto, as interpretações de grande parte do elenco - inclusive de Gal Gadot e Armie Hammer - não dão conta de aumentar a tensão de uma trama impossível de ser esclarecida sem a resolução de Hercule Poirot. Pena que ela demore tanto para acontecer (são praticamente 2 horas de filme) e seja conduzida com tanta seriedade. Para um filme que deveria ser escapista, faltou diversão.