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"Noite Passada em Soho" encanta pela estética, mas fica devendo quanto ao terror | Crítica

Filme de Edgar Wright estreia nesta quinta (18) nos cinemas

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 21/10/2021, às 14h20 - Atualizado em 18/11/2021, às 11h51

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"Noite Passada em Soho" encanta pela estética mas fica devendo quanto ao terror | Crítica - Divulgação/Universal Pictures
"Noite Passada em Soho" encanta pela estética mas fica devendo quanto ao terror | Crítica - Divulgação/Universal Pictures

Fale a verdade, ao ouvir uma música de décadas atrás, assistir àquele filme antigo ou usar uma roupa que não está mais na moda você já se imaginou parte de uma época que não a sua, não é mesmo? A protagonista de “Noite Passada em Soho”, Ellie (Thomasin Mckenzie) - como gosta de ser chamada - é dessas pessoas que se cercam do retrô e que lamentam por não ter vivido em outros tempos.

No novo longa de Edgar Wright, a personagem de Thomasin Mckenzie (“Jojo Rabbit”) é uma jovem apaixonada por discos antigos que viaja para Londres a fim de estudar aquilo que mais ama: moda. Quando chega lá, portando seus headphones e uma roupa que ela mesma costurou, Ellie descobre que consegue se transportar para a década de 60 - sua época favorita -, passando a compartilhar momentos vividos pela talentosa e misteriosa cantora Sandie (Anya Taylor-Joy, de "O Gambito da Rainha"). No entanto, a Londres dos anos 1960 não é o que parece, e Ellie se vê obrigada a investigar o que de fato aconteceu com Sandie.

Para o cinéfilo já familiarizado com cinema de Edgar Wright, “Noite Passada em Soho” gera uma inevitável expectativa de como será aquele que promete ser o mais sombrio de seus filmes até então. E é tranquilo afirmar que “Soho” tem muito do que fez o terror, um dos gêneros mais antigos do cinema: duplos, fantasmas, alucinações, assombrações, sangue, facadas, enfim, tudo o que se espera de um filme do gênero. No entanto, os sustos, o clima e a tensão acabam diluídos em uma produção que mais encanta pela estética do que atormenta por sua história. E havia potencial para tal.

Desde o início, “Noite Passada em Soho” assume um tom sombrio junto de um ritmo mais cadenciado, bem menos frenético se comparado a outros trabalhos de Wright, como “Em Ritmo de Fuga” e “Scott Pilgrim contra o Mundo”. Por isso, embora “Noite Passada em Soho” ainda tenha muito do estilo do diretor, ao mesmo tempo, é o filme que mais destoa dos demais de sua filmografia. Wright mergulha no terror como nunca, em exercício semelhante - mas bem aquém - ao que James Wan fizera em “Maligno”. Sim, há uma tímida semelhança com o giallo aqui.

Outra forte característica dos filmes de Wright também se faz presente em “Noite Passada em Soho”: a trilha sonora, composta por artistas e músicas sessentistas bem menos conhecidos pela grande maioria, o que nos mostra que realmente houve um trabalho de pesquisa, diferente do que acontece na trilogia “Rua do Medo” - desculpe a alfinetada -, que toca músicas batidas que poderiam ter sido escolhidas das playlists de mais tocadas por qualquer assinante de streaming de música.

Comentar o primor técnico é chover no molhado, ou seja, é óbvio que você encontrará sets bem decorados, vestidos e roupas deslumbrantes, maquiagens que podem inspirar para o seu Halloween e cabelos bem penteados, além disso, a fotografia do sul-coreano Chung-hoon Chung (“A Criada” e “Oldboy”) nos transporta para a década de 60 com facilidade - somos todos Ellie -, mas o que se destaca mesmo na trama investigativa que vai se transformando em uma paranoia é o toque de Krysty Wilson-Cairns no roteiro.

Claro que um homem narrando uma história feminina não é a mesma coisa que uma mulher. E Wright, até então, nunca havia tido protagonistas mulheres em seus filmes. Com isso, talvez resida aí a maior frustração - ou superficialidade - de “Noite Passada em Soho”. Os temas estão ali: o abuso, o bullying e a repressão, mas Wright não é a pessoa certa para explorá-los. Sempre que surgem, tais temas se escondem no mesmo minuto. Krysty Wilson-Cairns tenta, mas seu subtexto não supera a estética empregada por Wright.

Apesar disso, lidar com essa ojeriza a homens abusivos não é - e nem deve ser - uma prática somente das mulheres, afinal, o diretor Roman Polanski - que só serve de exemplo quando falamos em técnicas de cinema - já dirigiu Catherine Deneuve em uma das mais aterrorizantes experiências cinematográficas para as mulheres, com “Repula ao Sexo”, um filme bem mais soturno e menos vibrante se comparado a “Noite Passada em Soho”, esse muito mais estilizado, evocando o neon, suas cores quentes e uma trilha sonora alta. Wright se fascina e nos fascina com o seu cinema pop.

Em suma, “Noite Passada em Soho” é o tipo de filme que, enquanto cinema, não subverte e nem explora os temas profundos que estão ali atormentando a protagonista Ellie. Nos minutos finais, Wright revela seu plano: muita coisa acontece em pouco tempo e viramos passageiros de reviravoltas que não nos impactam tanto quanto deveriam. De qualquer forma, “Noite Passada em Soho” não deixa de ser uma gratificante experiência, pois Edgar Wright capricha em cada quadro do filme e nos deixa com uma vontadezinha de visitar aquela Londres dos anos 60. Pelo menos aquela sem fantasmas.

SESSÕES NA 45ª MOSTRA DE SP

"Noite Passada em Soho" tem classificação indicativa de 16 anos e será exibido em três sessões presenciais:

Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca (sala 1): 23 de outubro (sábado), às 18h15.
Petra Belas Artes (sala 2 - Leon Cakoff): 30 de outubro (sábado), às 17h15.
Espaço Itaú de Cinema - Frei Caneca (sala 2): 01 de novembro (segunda), às 18h30.