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#CineBuzzJáViu / CRÍTICA

"Pânico" adiciona nova regra à franquia e consagra dupla de diretores | #CineBuzzIndica

Filme da dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett estreia nos cinemas nesta quinta (13)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 12/01/2022, às 13h19 - Atualizado às 13h24

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"Pânico" adiciona nova regra à franquia e consagra dupla de diretores | #CineBuzzIndica - Divulgação/Paramount Pictures
"Pânico" adiciona nova regra à franquia e consagra dupla de diretores | #CineBuzzIndica - Divulgação/Paramount Pictures

Nos últimos anos, Hollywood parece fadada a uma mesmice de ideias com seus remakes, reboots, live-actions e intermináveis continuações. Principalmente no terror, mas não só. Essa falta de originalidade se reflete também em franquias que, há décadas, entraram para o cânone do cinema, como “Star Wars”, “Jurassic Park” e “Halloween”. Recentemente, “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” descobriu outro jeito de agradar aos fãs e entusiastas dos filmes de heróis: muito fan-service e nostalgia.

Dito isso, “Pânico” - uma das franquias mais queridas pelos cinéfilos - chega ao seu quinto capítulo gerando uma dúvida naqueles que prezam pelos filmes: o que será desta nova história sem a criatividade do mestre Wes Craven, falecido em 2015? Para quem conhece o poder da franquia, sabe que a tarefa é difícil, mas não impossível. Talvez, “Pânico” seja a única série de filmes que tem a liberdade, a originalidade e a propriedade para se reinventar e mexer com todo um gênero. 

Basta lembrarmos da época em que o primeiro “Pânico” foi lançado, no final de 1996 e começo de 1997 aqui no Brasil. Ele foi o primeiro filme a fazer com que os personagens citassem filmes de terror de sua época e também clássicos - “Qual o seu filme de terror favorito?” é uma das primeiras falas do longa - e essa consciência faz parte do conceito da própria franquia. Ou melhor, é uma de suas regras, diria algum personagem.

No final da década de 90, o slasher já estava mais maltratado do que as vítimas de Jason Voorhees, Michael Myers, Freddy Krueger e companhia, então, o diretor Wes Craven e o roteirista Kevin Williamson criaram uma história que brincava com os clichês do gênero mas que também começava a construir o seu próprio legado. Com isso, ao mesmo tempo em que “Pânico” era um filme com identidade própria, sua essência também era satirizar, referenciar e homenagear outros filmes de terror anteriores e contemporâneos a ele.

Dessa forma, os filmes de “Pânico” foram se tornando cada vez mais “obrigatórios” para os fãs do gênero, como se assisti-los fizesse parte de uma espécie de ritual de cinéfilos obcecados por histórias de terror e afins. Essa obsessão, no entanto, também tem o seu lado negativo: o fandom tóxico. E é claro, “Pânico 5” tem plena consciência de que eles existem e que são tão ou mais perigosos quanto quem acredita que o termo “pós-horror” faz algum sentido. 

A história deste quinto “Pânico” se passa exatos vinte e cinco anos após uma série de crimes brutais que aconteceram na pacata Woodsboro. Agora, na mesma cidade, um novo assassino se apropria da máscara de Ghostface e começa a perseguir um grupo de adolescentes liderados pelas irmãs Carpenter, Sam (Melissa Barrera) e Tara (Jenna Ortega), trazendo à tona segredos do passado da dupla. Às jovens só resta uma escolha: pedir a ajuda de profissionais.

Todo grande fã de “Pânico” sabe que a franquia possui seus momentos-chave, suas particularidades e seu próprio manual de sobrevivência - que o personagem Randy (Jamie Kennedy) detalha em “Pânico 2” -, desde a abertura icônica, passando pela revelação de quem é o assassino, até sua motivação. Neste quinto filme, se a abertura não está no mesmo nível da tensa e icônica abertura com Drew Barrymore do primeiro filme ou da extasiante sequência inicial na sala de cinema lotada de “Pânico 2”, pelo menos, ela traz algo inédito para a franquia - calma, não vou revelar nada! Este texto é sem spoilers!

A dupla de diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett - do delicioso “Casamento Sangrento” - tinha a difícil missão de honrar o legado de Wes Craven e, logicamente, defender a própria carreira - imagine se algo saísse errado.... E uma coisa é fato: a dupla acerta em cheio ao dosar todos os pré-requisitos básicos de um longa da franquia: o trio David Arquette, Courteney Cox e Neve Campbell é tratado com o devido respeito; tem muita metalinguagem; humor ácido em relação aos filmes de terror mais “sérios”; reviravoltas surpreendentes acontecem; há muita tensão acompanhada de uma trilha sonora incidental; e, claro, várias mortes violentas - o Ghostface mata com tanta intensidade que nos pegamos pensando “quem sente tanto ódio assim dos personagens para matá-los dessa forma?”.

Sabendo que não bastaria que o novo “Pânico” fosse apenas mais uma sequência - isso é coisa do passado! -, o roteiro da dupla James Vanderbilt (“Zodíaco”) e Guy Busick (“Urge: Droga Mortal”) toma forma de uma “requel”, como bem explica a personagem Mindy, vivida por Jasmin Savoy Brown, a cinéfila da vez. Mas o que seria uma requel? O termo, que não tem uma tradução literal para o português, poderia ser traduzido como uma “sequência ao legado”. Vou explicar com um exemplo recente: É como faz o “Halloween” de 2018. Ignore as sequências e se conecte diretamente ao original. É uma forma de respeitar o legado, prestando homenagem a ele e, concomitante a isso, ter sua própria narrativa.

Assim, Bettinelli-Olpin e Gillett assinam o filme sem emular Wes Craven, mas sabendo onde estão pisando. A dupla já havia demonstrado possuir um ótimo apuro estético e senso espacial tanto em “Casamento Sangrento”, longa que se passa inteiro dentro de uma mansão, quanto no segmento “10/31/98” da antologia “V/H/S”, de 2012, e em “Pânico” arquitetam um ato final dentro de uma casa que é de encher os olhos e agitar os ânimos dos fãs da franquia. Lembram da tal revelação do assassino e sua motivação, tão primordiais para “Pânico”? Arrisco a dizer que as revelações finais deste filme estão entre as mais geniais dos cinco filmes. O tom de escárnio é extremamente prazeroso e hilário.

Se “Pânico 4” deveria ter sido o início de uma nova trilogia - planos que foram abandonados devido à morte de Wes Craven e ao lançamento da série “Scream” - talvez este novo “Pânico” seja a oportunidade perfeita para que tudo comece de novo. A carismática Melissa Barrera carrega o protagonismo com a mesma plenitude que já havia demonstrado no musical “Em Um Bairro de Nova York”, mesmo mudando completamente a chavinha para um filme de terror. E como é lei em “Pânico”, as mulheres têm a força! E que máximo seria uma mulher mexicana como protagonista de uma das maiores franquias de Hollywood, não é mesmo? E o melhor: Adicionando uma nova regra a ela. Quer saber qual? Aí você vai ter que assistir!