"Era Uma Vez um Gênio" é fábula romântica que dá um quentinho no coração - Divulgação/Paris Filmes
CRÍTICA

"Era Uma Vez um Gênio" é fábula romântica que dá um quentinho no coração | #CineBuzzIndica

Novo longa do diretor George Miller é estrelado por Tilda Swinton e Idris Elba

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 02/09/2022, às 11h00

É curioso como alguns filmes conversam entre si de formas semelhantes mesmo focando em propostas de linguagem completamente distintas. É o caso de “Boa Sorte, Léo Grande” e “Era Uma Vez um Gênio”, este último estreando nas salas de cinema brasileiras esta semana.

O novo filme do diretor George Miller, assim como o longa da diretora Sophie Hyde, reúne homem e mulher em um quarto de hotel onde ambos dialogam sobre seus dilemas, necessidades e vivências. Só que Miller, diferentemente de Hyde, tem um orçamento de US $60 milhões de dólares em suas mãos, além de ter no currículo um dos filmes mais cinematográficos dos últimos anos: “Mad Max: Estrada da Fúria”.

Mesmo com menos grana e menos bagagem da diretora, “Boa Sorte, Léo Grande” é mais certeiro quando explora os diálogos e as camadas de seus personagens, principalmente a viúva Nancy vivida linda e corajosamente por Emma Thompson que, após uma vida de casada bem sem graça, decide contratar um garoto de programa para, enfim, sentir prazer. O sexo na terceira idade, principalmente para mulheres, ainda é tabu, e Hyde lida com isso de forma tão delicada que até o mais frio dos cinéfilos terá empatia por Nancy. “Era Uma Vez um Gênio” também é um filme sobre ter empatia. E me parece um filme sintomático do pós pandemia.

Muito se falou sobre quais obras herdaríamos deste período tão complicado pelo qual passamos - e ainda vivemos, se cuide! -, e essa é uma. É que Miller deixa isso muito evidente com o isolamento de Alithea, personagem de Tilda Swinton, uma especialista em narratologia que se distrai com as histórias de um Gênio de três mil anos vivido por Idris Elba - quem não recorreu à arte nos últimos 2 anos?. O Gênio e Alithea são dois personagens com bagagens culturais amplas, ela por formação, ele por vivência. E naquele quarto de hotel, um debate filosófico poderia acontecer, mas Miller opta por não afastar o espectador, suavizando os diálogos e nos convidando a fazer parte daquele faz de contas.

É que Miller é um contador de histórias nato, e digo histórias no sentido de fábulas mesmo. Ora, “Babe - O Porquinho Atrapalhado na Cidade” e “Happy Feet” são praticamente contos de ninar com uma lição de moral ao seu final. Posso até imaginar Miller com seus cabelos brancos, ajeitando seu óculos enquanto lê o “Era Uma Vez um Gênio” para o netinho prestes a dormir. O diretor apela aos efeitos especiais - que justificam o orçamento, embora nada que mereça uma indicação à próxima edição do Oscar - para voltar três mil anos no tempo e nos fascinar com as histórias de amor, perdas, trapaças e sedução contadas pelo Gênio de Elba.

Miller sequer parece querer se aproximar da magnitude de seu “Estrada da Fúria” de proporções gigantescas - e de realismo que até Christopher Nolan tem inveja -, de maneira bem lúdica, o diretor apela ao sentimental e ao fantástico sem vergonha alguma de de dar à história uma sensação de plenitude, quase um comfort movie que passaria na Sessão da Tarde. Até o título nacionalizado evoca isso. O “Era Uma Vez um Gênio” é bem mais simplório do que o “Three Thousand Years of Longing” original, em tradução livre, Três Mil Anos de Desejo. O que é interessante, pois, ao mesmo tempo que o diretor lida com o simples, ele também encontra saídas muito espertas, como quando brinca com a questão do desejo.

A Alithea de Swinton é mais segura que a Nancy de Thompson. Por ser uma ávida por leitura, Alithea antevê as possíveis malícias do Gênio, que lhe apresenta as regras: “não pode pedir por vida eterna e nem por pedidos infinitos”, mas ela vira o jogo quando se apresenta como alguém que já tem de tudo e sequer sabe o que pedir. Já o Gênio se revela como um ser que precisa atender aos desejos, sua força e vitalidade vem daí. Ele não é um garoto de programa que está ali apenas para atender a quem o evoca.

Um acerto e tanto, dado que a figura do Gênio que o cinema cansou de nos mostrar é a daquele ser mitológico azul pronto para nos atender. Não que o personagem do filme não seja assim, mas “Era Uma Vez um Gênio” vai na contramão ao expor as fragilidades de um ser que tem vida eterna. Nesse ponto, Gênio e Leo Grande se aproximam, afinal, Hyde também tira do garoto de programa vivido por Daryl McCormack suas motivações e conflitos.

Em suma, “Era Uma Vez um Gênio” adocica uma complexa história de amor. Há uma certa ingenuidade na fantasia conduzida por Miller, que facilita seu longa em muitos pontos, tornando o bate papo entre aqueles personagens menos profundo do que a conversa entre Nancy e Leo Grande. Há o desejo e há o sexo, mas o diretor foca no amor e na empatia, sem ser careta, fazendo deste conto uma história bastante contemporânea - ainda que volte três mil anos no tempo - que cativa ao dar a ela contornos tão românticos.

E lá se foi metade do ano... Até agora, qual foi o melhor filme de 2022?


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Era Uma Vez Um Gênio Tilda Swinton Idris Elba George Miller

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