"Um Herói" é mais uma crônica da moral e dos costumes assinada por Asghar Farhadi | #CineBuzzIndica - Divulgação/California Filmes
CRÍTICA

"Um Herói" é mais uma crônica da moral e dos costumes assinada por Asghar Farhadi | #CineBuzzIndica

Filme premiado no Festival de Cannes terá sessões presenciais na 45ª edição da Mostra de SP

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 22/10/2021, às 16h05 - Atualizado em 28/07/2022, às 10h30

O que define um herói? Atos de bravura? Demonstrações de coragem? Salvar alguém do perigo? E quando esse alguém a ser salvo é você mesmo? Ou melhor, sua própria honra? Este é o cerne da questão de “Um Herói”, novo longa do diretor Asghar Farhadi, voltando ao Irã após passagem pela Espanha, onde dirigiu “Todos Já Sabem”.

E muitos irão comemorar o retorno de Farhadi ao seu país natal, onde dirigiu grandes filmes como “A Separação”, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2011, e “O Apartamento”, vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Cannes de 2016. É no domínio de sua língua e lidando com os costumes de seu país que Farhadi melhor explora as diversas questões acerca dos conflitos morais, religiosos e de classes da sociedade iraniana.

Neste retorno, Farhadi narra a história de Rahim (Amir Jadidi), um homem que está na prisão devido a uma dívida que não conseguiu pagar. Durante uma licença de dois dias, ele tenta convencer o seu credor a retirar a reclamação contra o pagamento de parte da quantia, mas as coisas não saem como o planejado.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, “Um Herói” também levou um prêmio bem menos alardeado no mesmo festival que diz muito sobre a jornada de Rahim: o Prêmio François Chalais, concedido a filmes com valores afirmativos sobre a vida e o jornalismo. Não irei adentrar muito na trama, pois “Um Herói” é um filme que vai ficando angustiante a cada nova tentativa de Rahim em conseguir convencer seu credor a perdoá-lo ou em conseguir dinheiro para pagá-lo.

Contextualizando brevemente, Rahim ganha fama de ser um homem exemplar após realizar um ato de boa fé. Seu rosto passa a estampar os jornais e noticiários da TV. Ele chega a ser condecorado com uma placa que lhe dá um título de honra. Mas será que podemos segurar nossa honra com as próprias mãos? Não demora para que Rahim vire um exemplo de hombridade inquestionável, afinal, está na TV - que explora sua imagem, e a de seu filho, sem escrúpulos.

Para quem conhece o cinema de Farhadi - e, consequentemente, alguns dos costumes da sociedade iraniana -, sabe que questões morais e de honra são frequentes, além disso, Farhadi não aponta vilões ou heróis em suas histórias. As atitudes tomadas por seus personagens - na maioria das vezes, nas melhores das intenções - podem até ser questionadas, mas nunca julgadas, principalmente no caso de Rahim, um pai de família que só foi preso devido à sua origem humilde. Ora, imagine o desespero de um homem em saber que terá que retornar à prisão porque outro homem não lhe concederá perdão por uma dívida de anos atrás.

Apesar de Rahim ser facilmente visto como a vítima da história - é difícil não sentir empatia pelo homem -, vale notar como o roteiro do próprio Farhadi não faz do credor o vilão. Dessa forma, somos instigados a questionar: até que ponto o credor está com a razão? O que Rahim deve fazer para ser perdoado? Como reagir quando a situação sai do controle dos envolvidos e versões deturpadas viralizam na internet? Qual o papel da sociedade e da mídia nisso tudo? Ação após reação, a tensão só aumenta e “Um Herói” vai se tornando cada vez mais sufocante ao compasso que as possibilidades de perdão vão ficando cada vez mais distantes.

No momento em que aquela placa de honra não tem mais valor algum, resta a Rahim lembrar que sua honra não pode ser estampada ou carregada como se fosse um prêmio. Assim como ser alçado a "herói" foi algo que Rahim conseguiu sem segundas intenções - será? - o descontrole da situação também não pode ser colocado em sua conta. O que lhe resta é prezar pela honra que ainda acredita ter. É melhor um fim amargo do que uma amargura sem fim.

 


E lá se foi metade do ano... Até agora, qual foi o melhor filme de 2022?


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45ª Mostra Mostra de SP Um Herói Asghar Farhadi

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