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Cinema / SERÁ?

"Luca", novo filme da Pixar, conta uma história de descoberta LGBTQIA+?

Animação chegou ao Disney+ no último dia 18 de junho

Vitor Balciunas | @vetors Publicado em 26/06/2021, às 08h00

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"Luca", novo filme da Pixar, conta uma história de descoberta LGBTQIA+? - Reprodução/Pixar
"Luca", novo filme da Pixar, conta uma história de descoberta LGBTQIA+? - Reprodução/Pixar

A princípio, “Luca“, nova animação da Pixar, apresenta uma trama alegre ao nos apresentar a uma bela amizade e a cenários paradisíacos de Portorosso, na Itália. No entanto, a animação traz consigo uma mensagem que vai muito mais profunda e que vem sendo debatida nas redes sociais: afinal, “Luca” conta uma história LGBTQIA + ou não?

A seguir, confira alguns pontos que mostram momentos em que “Luca” retratou a realidade dessa comunidade e você pode não ter percebido. Porém, cuidado: se você ainda não assistiu à nova animação da Pixar, assista e volte aqui, pois o texto contém spoilers!

Alberto e Luca se aventuram pela superfície (Reprodução/Pixar)
  • TRANSFORMAÇÃO

No filme, somos apresentados a uma civilização marítima, que possui a habilidade de se transformar em humanos quando estão fora da água e, com isso, passar despercebidos e esconder sua verdadeira aparência. Notou alguma coisa familiar? É porque estamos falando de uma metáfora que pode ser facilmente associada aos membros da comunidade LGBTQIA+, que desde cedo são obrigados a disfarçar traços de sua personalidade para serem aceitos e escaparem da violência e preconceito.

  • A REAÇÃO DA FAMÍLIA

Ao descobrir as aventuras de Luca pela superfície, a mãe do garoto fica apavorada com os perigos do mundo, mas assume uma postura muito comum na vida de jovens que não são heterossexuais ou cisgêneros ao afirmar que ele está sendo influenciado por Alberto. Além de procurar culpados pela verdadeira natureza do filho, a família decide mandá-lo para a casa de um tio distante para afastá-lo do novo amigo.

A mãe de Luca não fica feliz ao descobrir que o filho tem um novo amigo na superfície (Reprodução/Pixar)
  • A FUGA

Depois de descobrir os planos da matriarca, nosso protagonista toma a decisão de fugir de casa e se arriscar pelas ruas ao lado de seu companheiro de aventuras e viver sua verdade. Fora das telas, isso se tornou algo tão comum na vida de jovens queer, que surgiram até mesmo abrigos especializados para receber essa população vivendo em situação de risco.

  • O CARINHO E CIÚMES DOS GAROTOS

Um dos pontos mais polêmicos desta discussão gira em torno da relação de Luca e Alberto. Os personagens representam meninos de 13 anos e por isso não deveriam ser vistos como um casal. Mas quando falamos que existe um sentimento maior entre eles, estamos falando de algo puro e completamente isolado de um contexto sexual.

Isso fica evidente em diversas cenas, em que demonstram o carinho, cuidado e até ciúmes, que começamos a desenvolver exatamente nessa idade, mas não entendemos muito bem porque estamos sentindo aquilo. Ao justificar sua escolha de deixar a família para trás, Luca entrega uma frase extremamente comovente dizendo que não pode voltar, pois seria separado de tudo que ele ama, e nesse tudo, é nítido que ele também inclui Alberto.

  • “ARRANCADO DO ARMÁRIO”

A expressão “sair do armário” é de conhecimento popular, mas só quem viveu no tal espaço, apertado e desconfortável, consegue se identificar com a cena em que Alberto é exposto como um “monstro marinho” e é surpreendido pela rejeição de Luca, seu igual que deveria apoiá-lo.

Esse tipo de situação costuma acontecer no ambiente escolar, quando, por exemplo, um amigo é apontado como gay pelo resto da turma e você entra na pressão social de rejeitá-lo para esconder de todos que você também é. Parece uma atitude muito cruel do personagem – e realmente é -, mas é também destrutiva para ele e todos que se veem nessa situação por medo da intolerância alheia.

Dentro da água, Luca tem uma aparência de monstro marinho, mas fora dela é humano (Reprodução/Pixar)
  • O PAI DE GIULIA

Em uma reviravolta adorável, o pescador Massimo Marcovaldo, que faz sua primeira aparição declarando que usa suas facas para cortar tudo que vem do mar, causa pânico entre nossa dupla marinha, e nos deixa imaginando que seria um antagonista. Mas ele foi estrategicamente colocado na história para representar que a intolerância pode ser superada!

O pai de Giulia passa a conviver com os garotos e desenvolve um carinho por eles, antes de saber o segredo que eles escondiam. Surpreendendo muita gente, ao descobrir a “identidade secreta” dos amigos de sua filha, ele abandona seu discurso contra as criaturas do marítimas e é um dos primeiros a defendê-los de uma multidão tomada pela ignorância e medo do diferente.

  • ELAS SEMPRE ESTIVERAM AQUI

No meio de toda essa confusão causada pela revelação de Luca e Alberto, o espectador recebe mais uma mensagem importante de representatividade ao ver que as duas idosas, respeitadas pela cidade, na verdade também eram “criaturas marinhas” e sempre estiveram entre eles, reacendendo a discussão de que pessoas LGBTQIA + sempre fizeram parte de nossa sociedade e que não deveriam ser julgadas por serem quem são, já que a sexualidade é um aspecto individual de cada pessoa.

  • A DESPEDIDA

Depois de tantos desafios no caminho de nossos protagonistas, chegou o momento em que nos deparamos com a preciosidade que é a relação que eles construíram. Alberto descobre que seu amor por Luca é muito maior do que ter a tão sonhada Vespa e a vende para que o parceiro possa sair da pequena ilha e estudar ao lado de Giulia em Gênova. A forma como eles se despedem é de encher os olhos de lágrimas e torcer para um dia ter a sorte de encontrar um sentimento tão puro e verdadeiro como este.

Ao longo do filme, Alberto e Luca se tornam melhores amigos (Reprodução/Pixar)
  • O QUE DIZ O DIRETOR?

Enrico Casarosa, diretor do filme, afirma que a mensagem do longa é sobre aceitação e que não se trata de um romance, mas também declara que os protagonistas estão em uma fase da vida de compreender os sentimentos. Ainda assim, precisamos levar em conta que estamos falando de uma forma de arte e que a arte nos propõe reflexão. Com isso, o objetivo inicial do artista pode entrar em segundo plano de acordo com o resultado da reflexão que ela desperta em seu público. E você, o que acha?