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#CineBuzzJáViu / CRÍTICA

“Aftersun” busca em memórias afetivas a compreensão da relação entre pai e filha | #CineBuzzIndica

Longa de estreia da diretora Charlotte Wells chega aos cinemas a partir de quinta-feira (1)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 30/11/2022, às 12h00 - Atualizado às 17h00

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“Aftersun” busca em memórias afetivas a compreensão da relação entre pai e filha - Divulgação/A24
“Aftersun” busca em memórias afetivas a compreensão da relação entre pai e filha - Divulgação/A24

É de impressionar que a estreante em longas, Charlotte Wells, consiga trazer a “Aftersun” um olhar maduro e com ares de novidade ao embarcar no relacionamento entre um pai e sua filha, um tema visto tantas vezes no cinema. É que ela já nos convence, logo de cara, que seu filme é uma história que tem algo de especial a nos oferecer, ou seja, somos intimamente convidados a observar e tentar compreender aquela relação afetuosa, cheia de profundidade, que diz muito mais do que as próprias imagens nos mostram.

"Aftersun", eleito Melhor Filme pelo Júri da 46ª Mostra de São Paulo, faria uma boa sessão dupla com “Meu Pai”, de Florian Zeller, no qual o pai interpretado pelo vencedor do Oscar, Anthony Hopkins, vive perdido em suas próprias memórias que se confundem com a realidade devido à sua doença e idade avançada. A Sophie de “Aftersun”, já adulta, busca em registros caseiros que fizera em uma viagem à Turquia, ao lado do pai (Paul Mescal, de “Normal People”), uma forma de reviver as memórias daquele verão. De um lado, “Meu Pai” é um filme sobre uma mente se fragmentando, de outro, “Aftersun” é um filme sobre fragmentos de memória.

Há algo de especial naquelas férias de quando Sophie tinha apenas 11 anos. Mas o quê? Diria que é impossível responder com certeza. Wells tampouco se preocupa em nos dar respostas. Conforme a narrativa se desenrola, “Aftersun” não coleciona grandes viradas - e isso não é uma crítica -, este é o tipo de filme “sem roteiro”, é a vida como ela é. Curtindo suas férias, a jovem Sophie vai à piscina, conhece um amiguinho no hotel em que está hospedada, joga sinuca com garotos maiores, canta no karaokê e questiona o relacionamento do pai com a mãe - quando descobrimos que ambos não moram juntos e, por isso, aquela viagem tem tanta importância.

É gratificante perceber como Wells não reduz seu filme a uma fórmula batida à qual o cinema norte-americano ficou preso por tantos anos: por que justificar o que está se apresentando à nossa frente? Para que grandes diálogos se os silêncios aqui já dizem tanto? A diretora está interessada nas férias de Sophie e Calum. E Paul Mescal e a jovem Frankie Corio esbanjam química em todas as cenas.

Ficamos intrigados em saber o que cada um daqueles momentos compartilhados entre ambos possam ter significado para Sophie. Afinal, todos nós temos recordações carinhosas da infância que possuem significado que apenas nós mesmos sabemos traduzir - quando não, apenas sentir. Por isso, assistir a “Aftersun” sem saber, de fato, o peso daquela viagem para Sophie é a graça e a magia do filme.

Sem afetações, Wells conduz a história de forma simples, com uma decupagem naturalista, oriunda de um cinema contemporâneo independente, mas que se esguia da obviedade. A própria fotografia, assinada por Gregory Oke, não busca representar uma estética do passado, é como se estivéssemos assistindo a uma memória viva. A ausência de uma trilha sonora instrumental também cumpre esse papel, parece que o filme opta pelo silêncio e por músicas dos anos 90 porque são tais elementos que preenchem as lacunas de nossa memória.

Mas nem tudo são flores ou memórias boas e reconfortantes. Na verdade, além de proporcionar a Sophie um resgate de suas lembranças, “Aftersun” também se apresenta como uma tentativa da filha adulta em compreender aquela figura paterna. E este é um exercício que só a Sophie adulta (Celia Rowlson-Hall) seria capaz de realizar, já que as preocupações da Sophie de 11 anos eram outras, já que “Aftersun” também é um filme de amadurecimento da pré-adolescente.

Entre risos e afetos, há também o distanciamento. A linguagem corporal de Mescal prova que algo em Calum o incomoda. O peso de ser pai? O medo de não ser quem ele deveria representar para a filha? O choro sozinho na cama elucida o momento depressivo pelo qual ele está passando. São tantas perguntas que jamais terão respostas que talvez nem mesmo Sophie as encontre nessa rebobinada do filme de sua própria vida. “Depois do sol”, o calor se esvai. Ao final, o que fica mesmo são as lembranças daquelas férias e os dias de carinho compartilhados ao lado do pai. E conosco.

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