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"A Crônica Francesa" reúne características de Wes Anderson mas não encanta | Crítica

10º longa do diretor chega aos cinemas nesta quinta (18)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 18/11/2021, às 16h13

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"A Crônica Francesa" reúne características de Wes Anderson mas não encanta | Crítica - Divulgação/Searchlight Pictures
"A Crônica Francesa" reúne características de Wes Anderson mas não encanta | Crítica - Divulgação/Searchlight Pictures

Quando entramos em uma perfumaria ou em uma loja de roupas, algumas peças e perfumes nos saltam aos olhos chamando atenção seja por sua marca, pelos tons de cores ou por seu perfume. No cinema, a coisa funciona de forma parecida. Alguns cineastas têm uma filmografia tão estilizada e um estilo tão próprio que, seja por um frame, por uma cena ou por uma sequência, somos capazes de identificar de quem é aquele filme.

Vamos assistir a um filme de Quentin Tarantino, Spike Lee ou Pedro Almodóvar sabendo o que vamos encontrar, ou pelo menos esperamos notar os ângulos de câmera, a trilha sonora, os mesmos atores de sempre e nos encantar por uma direção de arte digna de Oscar. O mesmo acontece no cinema de Wes Anderson, diretor que dá destaque à simetria e ao visual de seus filmes de forma que é quase impossível não perceber que você está assistindo a algo com sua assinatura.

Fazer isso é como uma antecipação da experiência - o que para muitos é um problema -, assim, Wes Anderson acaba sendo aquele diretor conforto: escolher um de seus filmes para assistir é esperar por uma direção de arte colorida, detalhes minuciosos, história e personagens excêntricos e, principalmente, encontrar alguns atores que já viraram fetiche do diretor, como Adrien Brody, Owen Wilson e Bill Murray, seu maior colaborador, presente em nove dos dez longas de Wes.

Só que o cinema e os filmes não se tornam bons por preencherem a uma lista de pré-requisitos. É preciso encontrar, pelo menos, profundidade ou entretenimento na arte. Neste “A Crônica Francesa”, Wes Anderson mergulha na redação do jornal que leva o nome do filme para contar a história do editor-chefe Arthur Howitzer, Jr. (Bill Murray) e de sua equipe de jornalistas. Após a morte de Howitzer, os colaboradores do jornal se reúnem em seu escritório e decidem por lançar uma edição especial da Crônica Francesa com as melhores histórias de seus repórteres.

A partir desse background da morte de Howitzer, “A Crônica Francesa” se divide em quatro segmentos, cada um deles narrados por cada um dos repórteres do jornal e que acabam prestando homenagem não só ao jornalismo, mas também a outras artes como a pintura, a gastronomia e a literatura. E como acontece em muitos filmes de antologias, “A Crônica Francesa” oscila entre histórias interessantes e desinteressantes. Pior: As duas primeiras são as melhores graças ao humor excêntrico presente nelas, ou seja, o filme vai perdendo fôlego dentro de sua própria proposta.

Dentre as histórias, a que mais chama a atenção é aquela protagonizada por Benicio del Toro ("Star Wars: Os Últimos Jedi"), Léa Seydoux ("007 - Sem Tempo para Morrer") e Adrien Brody ("The Darjeeling Limited"). Benicio estreia no cinema de Wes interpretando um prisioneiro amante da pintura que tem como sua fonte de inspiração a guarda da prisão, a belíssima Léa Seydoux. Com uma história curta mas que ostenta muitas das características que evidenciam o melhor do cinema de Wes Anderson - como a brincadeira com a paleta de cores, o humor ácido e a profundidade de um tema transgressor - o segmento se destaca dos demais por soar autêntico e revolucionário.

Já as demais histórias, por mais estranhas e engraçadinhas que sejam, não conseguem captar todo o carisma dos personagens e das situações. Wes que já se provou um exímio diretor de elencos, como em “Os Excêntricos Tenenbaums”, “O Grande Hotel Budapeste” e “Moonrise Kingdom”, aqui, ao separar em núcleos aquele que talvez seja o grupo de atores mais chamativo com quem já trabalhou, limita demais o tempo de todos e nunca explora o potencial que seria uma redação de jornal: todos trabalhando e produzindo juntos em uma sinergia sem igual.

Em suma, “A Crônica Francesa” reúne todo o estilo de Wes Anderson na estética mas lhe falta a essência que um cronista nato como João do Rio daria àquelas personagens e histórias, além não conseguir alcançar o mesmo tom de homenagem ao jornalismo que Woody Allen conseguiu empregar em seu “A Era do Rádio”. Ao final, fica aquela sensação de que faltou profundidade em temas e personagens, talvez funcionando melhor para quem vá esperando ver o que “A Crônica Francesa” tem melhor a oferecer: a marca do diretor.