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“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a prova de que Clint Eastwood é o último dos românticos | #CineBuzzIndica

Novo longa do veterano de 91 anos é um de seus filmes mais sentimentais

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 16/09/2021, às 14h40

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“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a prova de que Clint Eastwood é o último dos românticos - Warner Bros.
“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a prova de que Clint Eastwood é o último dos românticos - Warner Bros.

Em certa altura de “Cry Macho: O Caminho para a Redenção”, o personagem de Clint Eastwood, um velho caubói despedido da fazenda onde trabalhava, diz “eu costumava ser uma lenda, mas não sou mais”. Bem, a verdade é que, se o personagem de Clint não acredita mais em si mesmo, o diretor de 91 anos tem se provado cada vez mais lendário.

Em seu novo filme como diretor e protagonista, Clint Eastwood torna a interpretar um caubói, coisa que ele não fazia desde os anos 90, quando protagonizou os “Os Imperdoáveis”, em 1992, período próximo ao que produziu um de seus filmes mais românticos: “As Pontes de Madison”, de 1995.

Inclusive, “Cry Macho” é o seu trabalho mais sentimental desde aquele em que contracenou com a atriz Meryl Streep, no qual eles vivem dois personagens envolvidos em um romance proibido. Dessa vez, o último dos românticos se mostra mais sensível do que nunca, provando que o caubói “macho” ultrapassado também é capaz de encontrar o amor.

Na história adaptada do romance homônimo de Richard Nash pelo roteirista Nick Schenk e pelo próprio Nash, Clint é Mike Milo, um ex-astro de rodeio e criador de cavalos fracassado que, em 1979, aceita ir ao México buscar o filho de um velho amigo com quem tem uma dívida de honra. A missão que parecia simples vai se tornando difícil à medida que Mike e o espirituoso Rafo (Eduardo Minett) avançam de volta ao Texas, fazendo com que ambos encontrem conexões inesperadas.

Volta e meia, Clint confronta o velho e o novo em seu cinema. Recentemente, vimos o diretor abordar esta relação em “Gran Torino” e “A Mula”, e basta voltar alguns anos para perceber que em “Menina de Ouro” e “Cowboys do Espaço” ele também já fizera o mesmo. O fascínio de Clint pela temática revela como o diretor, nada ultrapassado, é um dos poucos da atualidade que melhor propõe esta discussão, ainda que embalado por uma narrativa clássica.

Ora, e é justamente a partir de uma motivação clássica ao western, a de atravessar a fronteira entre México e Texas para resolver um assunto, que Mike encontra ímpeto para voltar a acreditar que a vida ainda tem planos para ele. E o mesmo acontece com o jovem Rafo, que enxerga, na oportunidade de ir aos Estados Unidos, a idealização que sempre teve do sonho americano bem próxima de se tornar realidade.

Como se fosse um road movie misturado com coming of age, “Cry Macho” oferece, a Mike e Rafo, a oportunidade de amadurecimento e de se transformarem em pessoas diferentes daquelas que eles eram quando se conheceram. E isso se deve à forma carinhosa com que Clint desenvolve e conduz suas personagens.

Há momentos tão singelos na história, como um afago em um cavalo arredio e uma promessa de que um cachorro velho ficará bem se dormir com os donos, que “Cry Macho” vai se tornando um drama cada vez mais sentimentalista, assumindo sem vergonha alguma essa faceta romântica que Clint Eastwood, no auge de seus 91 anos, ainda enxerga no simples e no clássico.

E quem conhece o Clint Eastwood de outrora sabe bem que alguns dos temas que ele trata aqui, como a solidão do caubói sem perspectiva e a busca do jovem pelo sonho americano, são recorrentes em seu cinema. A diferença é que, em “Cry Macho”, seu Mike Milo sabe que posar de machão e ser bom de rinha é também se privar de sentimentos tão genuínos como o amor e a compaixão.

Ao final, “Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é como se fosse uma resposta direta do próprio Clint Eastwood àqueles que volta e meia lhe perguntam sobre sua aposentadoria: parar pra que? Se ainda há tanta coisa linda a ser vista, vivida e contada por aí?