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Grandioso e violento, "O Homem do Norte" é épico de vingança viking que o cinema blockbuster precisava | #CineBuzzIndica

Longa do diretor Robert Eggers, de "A Bruxa", chega aos cinemas nesta quinta-feira (12)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 12/05/2022, às 13h07

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Grandioso e violento, "O Homem do Norte" é épico de vingança viking que o cinema blockbuster precisava - Divulgação/Universal Pictures
Grandioso e violento, "O Homem do Norte" é épico de vingança viking que o cinema blockbuster precisava - Divulgação/Universal Pictures

Quando Robert Eggers debutou para o cinema em 2015, com “A Bruxa”, muitos rasgaram elogios - merecidíssimos - ao diretor, colocando em suas costas o fardo de ser um dos nomes que mudaria o terror contemporâneo. Com isso, expectativas foram criadas para o seu próximo trabalho, satisfeita em 2019, quando “O Farol” foi lançado. E se o longa protagonizado por Robert Pattinson e Willem Dafoe não é encarado como terror por alguns, é inegável que Eggers se inspirou no Expressionismo Alemão da década de 20 para conceber muitas das ideias da história.

Tendo somente esse dois filmes em sua filmografia até então, era difícil identificar um estilo em Robert Eggers. Era notório que o terror permanecia como uma de suas maiores inspirações - se não a maior -, mas ainda faltava uma clareza sobre para qual lado de um gênero tão vasto Eggers caminharia. Por exemplo, James Wan sempre flertou com o terror extremo na franquia “Jogos Mortais” e com uma decupagem mais moderna na franquia “Invocação do Mal”; Jordan Peele, de “Corra!” e “Nós”, utiliza o terror como uma ferramenta para imbuir um forte discurso racial em seus filmes; e Ari Aster, de “Hereditário” e “Midsommar”, apela para o incômodo e a repulsa em narrativas que se iniciam a partir de dilemas familiares.

A dúvida sobre o estilo de Eggers é genuína e está longe de ser uma crítica ao diretor, ela é feita pois ficou ainda maior quando o mundo do cinema ficou sabendo que o seu próximo projeto seria um épico viking com violência extrema. Ora, de onde o diretor tiraria inspirações do terror para conduzir uma história assim? E elas existem, de fato, em “O Homem do Norte”, terceiro filme do diretor que reúne alguns nomes com os quais ele já trabalhou anteriormente, como Anya Taylor-Joy, de “A Bruxa”, e Willem Dafoe, de “O Farol”, além de novidades como Alexander Skarsgård (“Melancolia”), Nicole Kidman (“Dogville”), Claes Bang (“The Square”), Ethan Hawke (“Cavaleiro da Lua”), entre outros.

Havia também outra dúvida que sempre surge quando um diretor acostumado a um cinema mais independente assume um projeto tão grandioso quanto “O Homem do Norte”: lidar com produtores e um orçamento com o qual ele não havia trabalhado até então. Para efeito de comparação, o épico viking teve orçamento de 90 milhões de dólares, enquanto “A Bruxa” custou 4 milhões e “O Farol” 11 milhões. E mais: por ser um projeto de estúdio, naturalmente, Eggers teria menor controle criativo - e ele realmente chegou a reclamar da experiência traumática que fora a produção do filme. Como então Eggers lidaria com tudo isso? A resposta está nas telonas.

É perceptível que “O Homem do Norte” seja um blockbuster - do estilo que o cinema de hoje precisa - pois ele reúne diversos aspectos que compõem um filme que deseja levar o público aos cinemas: Os diálogos são expositivos - e por vezes didáticos até demais -, a decupagem é mais clássica e menos inventiva, e a história tem um clímax pelo qual esperamos desde os primeiros minutos de projeção. Ainda assim, ele expõe violência e corpos nus e sujos de sangue que, se não justificam a classificação indicativa de 18 anos - sinceramente, um exagero - ao menos deixa evidente que é possível fazer filmes para os adultos dentro de um grande estúdio de cinema.

Na trama, o príncipe Amleth (Skarsgård) está prestes a se tornar um homem quando seu pai, o rei Aurvandil (Hawke), é brutalmente assassinado por seu tio Fjölnir (Bang), que também sequestra a mãe do menino, Gudrún (Kidman). Duas décadas depois, Amleth se tornou um viking com uma missão: matar seu tio, salvar sua mãe e vingar seu pai.

A clássica jornada do herói de “O Homem do Norte” é naturalmente mais fácil de ser digerida pelo público pois histórias de vingança como “Hamlet” e “O Rei Leão” já habitam o nosso imaginário, e não será engano caso algum espectador compare “O Homem do Norte” a elas, no entanto, Eggers se inspira no conto dinamarquês de Amleth, que inspirou Williams Shakespeare a escrever a peça “Hamlet”, para conduzir seu blockbuster por um estilo mais próximo ao seu.

Mesmo que as limitações de um filme de estúdio impeçam certos devaneios vistos em “O Farol” ou uma aura mais sombria como a de “A Bruxa”, Eggers consegue impregnar com sangue, violência e sujeira diversas passagens de um filme que daria errado em mãos mais frouxas. Sua câmera caminha próxima ao Amleth de Skarsgård - gigantescamente musculoso -, sempre raivoso, sujo como um animal e com um olhar pungente de quem só conhece a sede por vingança e que irá se saciar dela assim que encontrá-la.

Os planos-sequência e a fotografia de Jarin Blaschke, colaborador constante de Eggers, dão a “O Homem do Norte” algo que o cinema blockbuster carece hoje em dia: mais autenticidade e personalidade. Embora seja contado de maneira clássica, o filme encontra em passagens como a da Valquíria cavalgando rumo ao céu ou a luta entre dois homens nus próximos a um rio de lava, uma efervescência que só mesmo um diretor como Eggers conseguiria apresentar. Nota-se em momentos como esses citados que o diretor tentou, a todo custo, livrar-se das amarras de um filme de estúdio.

Logicamente, “O Homem do Norte” não é o filme que irá definir o estilo Robert Eggers, talvez esse projeto funcione muito mais como um desafio pessoal pelo qual o próprio diretor quis passar do que qualquer outra coisa. Ao espectador, pelo menos uma coisa ficará clara após a sessão do filme: Eggers é um cineasta apegado ao clássico com senso estético fortemente apurado que, mesmo dentro de todas as circunstâncias limitadoras de se realizar um filme de estúdio, passando por um processo extremamente exaustivo, ainda consegue nos deixar curiosos por uma mera história de vingança viking.


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