Longa, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (23), é estrelado por Sophie Charlotte ("Todas as Flores")
Mariana Arrudas Publicado em 23/03/2023, às 13h30
Em quase duas horas de tela, o convite para desbravar o Rio Amazonas se estende a todos que assistem a "O Rio do Desejo". O filme, baseado no conto "O Adeus do Comandante", do amazonense Milton Hatoum, acompanha um capitão, que deixa a sua esposa em casa para fazer uma arriscada viagem pelas águas do rio e perde as nuances da relação da amada com seus irmãos, o que desperta desejos difíceis de serem contidos.
Com uma rica fotografia de Luiz Braga, o longa-metragem explora o azul exuberante do Rio Amazonas em contraste com o verde da floresta e o bege das paredes das casas da cidade. Apesar dos diálogos simples e em sua maioria curtos, a trama explora com complexidade a relação de Anaíra (Sophie Charlotte), Dalberto (Daniel de Oliveira), e seus irmãos, Dalmo (Rômulo Braga) e Armando (Gabriel Leone).
Gravado na pequena cidade de Itacoatiara, no Amazonas, o filme de Sérgio Machado também faz sentir o intenso calor do município localizado há mais de quatro horas de Manaus. Sem glamour ou disfarces, os personagens aparecem sempre suados com roupas para se adaptar ao clima – que se torna quase outro personagem na história, assim como a agonia e desejo, que andam lado a lado na família.
Na história, Dalberto desiste da carreira de policial e decide comprar um barco, o Princesa Anaíra. Para pagar pelos custos da nova aquisição, ele sai em expedições pelo rio para entregar cargas. Ao longo tempo em que fica fora, a curiosa e instigante Anaíra passa a conhecer a história da família do amado e os interesses de seus irmãos, Dalmo e Armando.
Com uma personalidade solar, a personagem feminina ilumina os ambientes do filme e transparece na tela o cuidado com o que desenvolve com os irmãos de Dalberto. Apesar de as relações familiares serem pouco exploradas, é possível entender através dos olhares as inseguranças dos irmãos ao falar do fim da relação dos pais, e a agonia de recriar um antigo trauma através de uma traição contra o irmão.
Calado e observador, Dalmo luta contra si mesmo para impedir o desejo que nutre pela cunhada, enquanto o descomplicado e leve Armando se entrega ao fogo despertado por Anaíra. A protagonista se mantém quieta e demonstra uma aceitação quase delicada com a aproximação de cada irmão, que se estende até um trágico desdobramento.
Por fim, o drama deixa uma linha tênue entre o julgamento para com os personagens e a identificação com cada um. A cada ação é possível sentir arrependimento, paixão e medo, misturados em um questionamento feito por Anaíra. “É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?”.
A história já ganhou prêmios em festivais internacionais, e faz parte de uma leva de projetos que contaram com apoio e patrocínio de diversos órgãos do país. Apesar de remeter a tramas anteriores de Machado, como Cidade Baixa e Dois Irmãos, o drama apresenta um território ainda pouco conhecido pelas produções nacionais e convida os brasileiros a retornar aos cinemas para conhecer uma relação perplexa e trágica.
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