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Os canibais também amam em “Até os Ossos”, road movie chocante e perturbador | #CineBuzzIndica

Filme estrelado por Timothée Chalamet e Taylor Russell estreia nos cinemas a partir de quinta-feira (1)

ANGELO CORDEIRO | @ANGELOCINEFILO Publicado em 30/11/2022, às 14h15 - Atualizado às 18h30

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Os canibais também amam em “Até os Ossos”, road movie chocante e perturbador - Divulgação/Warner Bros. Pictures
Os canibais também amam em “Até os Ossos”, road movie chocante e perturbador - Divulgação/Warner Bros. Pictures

O canibalismo foi um dos assuntos que mais ficou em evidência na internet durante o ano de 2022. Tanto na vida real, quanto na ficção. Nos streamings, a Netflix contou a história do serial killer Jeffrey Dahmer, conhecido como o canibal americano, enquanto o Star+ lançou “Fresh”, terror protagonizado por Sebastian Stan e Daisy Edgar-Jones.

Na vida real, um escândalo chocou muita gente: o ator Armie Hammer foi acusado de canibalismo e estupro por diversas mulheres, o que fez com que o astro de Hollywood perdesse contratos, papéis em filmes e viu sua carreira nos cinemas ser encerrada bem antes do que ele imaginava. Pelo menos até agora.

Aí aparece Luca Guadagnino com “Até os Ossos”, um romance sobre dois jovens canibais marginalizados. No mínimo polêmico, não? O diretor já havia dado ao mundo “Me Chame Pelo Seu Nome”, uma das narrativas LGBTQIA+ mais elogiadas dos últimos anos, e ousou ao realizar o remake de um dos grandes filmes de terror dos anos 70, “Suspiria”, do mestre do giallo, Dario Argento, agora toca em um tema espinhoso em uma abordagem que poderá incomodar a muita gente.

Nesta nova empreitada, Guadagnino se prova um diretor extremamente contemporâneo ao mesclar diversos gêneros em uma narrativa que nunca se perde em nenhum deles. O diretor transita entre terror, romance, road movie e coming of age de maneira orgânica, deixando aqueles que adoram dar uma única classificação aos filmes com uma tarefa praticamente impossível.

Essa organicidade entre gêneros acaba se encaixando perfeitamente à proposta de “Até os Ossos”. O filme é um road movie que vai apresentando várias facetas da América ao compasso que seus protagonistas partem em busca de se compreender e, ao mesmo tempo, tentam fugir das ameaças que surgem em seus caminhos.

É que a história se passa nos Estados Unidos dos anos 80, durante os duros anos do governo do presidente Ronald Reagan. Na trama, que se inicia como um coming of age adolescente, acompanhamos a jovem Maren (Taylor Russell) ser abandonada pelo pai (André Holland) por este não suportar lidar com os instintos da filha. Tal abandono é metafórico: a garota de 18 anos se vê desamparada em um país hostil.

Enquanto viaja em busca de seu último fio de esperança - a mãe que nunca conheceu -, Maren vê seu drama ganhar ares de horror ao encontrar - ou melhor, ser farejada por - Sully, personagem vivido por um excelente e assustador Mark Rylance - em uma das atuações mais impactantes do segundo semestre de 2022. E não para por aí. Quando cruza caminhos com a figura de Lee (Timothée Chalamet), Maren logo se identifica: o garoto é marginalizado e canibal como ela.

A nova companhia de viagem da jovem aproxima a narrativa do casal de “Até os Ossos” à dos personagens de Martin Sheen e Sissy Spacek em “Terra de Ninguém” (1973), de Terrence Malick, com um porém: enquanto a violência do filme de Malick é uma escolha dos personagens, o canibalismo no filme de Guadagnino surge como um instinto impossível de ser contido.

Guadagnino jamais busca justificar os atos de seus protagonistas, não há romantização da violência em um país que já é violento. Ora, há sim carinho do diretor para com seus personagens, no entanto, seus atos são condenados por eles mesmos e pelas linhas do roteiro de David Kajganich, adaptando o livro homônimo de Camille DeAngelis.

Basta notar como Guadagnino se aproxima de Maren e Lee quando necessário, para compadecermos de sua situação, mas nas cenas mais gráficas e violentas há certo distanciamento. A própria trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross serve de alerta, com notas incisivas que precedem os momentos mais tensos.

E é justamente por acompanharmos a história pela perspectiva de dois jovens canibais apaixonados, que “Até os Ossos” pode ser classificado como uma história romântica com ares de horror. No entanto, Guadagnino não se apropria do terror como justificativa para explorar a violência praticada por seus personagens - não há julgamento moral -, o canibalismo é intrínseco à personalidade deles, algo natural, um instinto de sobrevivência, quando ele é posto à prova, o que testemunhamos é apenas os personagens sendo o que eles são: canibais que também amam.

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